A multa é irrisória (R$ 78,00), mas o  princípio é fundamental. Puniram a família por exercer o direito  inalienável de educar seus filhos como e onde quisessem.
Todos os dias algum órgão de imprensa brasileiro critica a educação  no Brasil. Mazelas vão da falta de professores ou condições físicas, ao  despreparo dos professores, passando por currículos antiquados  produzidos por educocratas governamentais.
Lucy Vereza, que foi secretária de Educação do Rio de Janeiro,  entrevistada, disse ser impossível atrair a atenção de crianças que viam  os melhores programas e desenhos animados na TV, produzidos por  empresas riquíssimas e diretores milionariamente pagos, mandando-as para  escolas sem graça em que professoras mal pagas e pior treinadas  ensinavam coisas do tipo "Ivo vê a uva." Kleber e Bernadete, pais de Jonatan e Davi, residentes em Timóteo, Minas Gerais, resolverem agarrar o touro pelos chifres.
Se pouco ou nada podiam fazer para melhorar a escola que o estado (ou  seus licenciados) ofereciam, criaram uma escola para seus filhos em  casa.
Não são pais que resolverem abandonar e educação de seus filhos ou  deixá-la "para lá." São apenas pais conscientes que resolveram educar  seus filhos em casa por uma simples razão: acreditam que são capazes de  cumprir essa tarefa melhor do que o estado (coisa que mais de um milhão  de famílias americanas fazem legalmente nos Estados Unidos).
Mas, no Brasil isso é proibido. Apesar de Jonatan e Davi terem sido  aprovados nos exames que avaliam alunos comuns, que estudam no sistema  educacional regular, seus pais cometeram um crime e por isso foram  condenados.
O aterrador é o poder do Estado todo poderoso e dos "fazedores do  bem," autores do Estatuto da Criança e do Adolescente. Obrigam todos os  pais do Brasil a matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de  ensino (art. 55), por pior que ela seja.
A multa é irrisória (R$ 78,00), mas o princípio é fundamental.  Puniram a família por exercer o direito inalienável de educar seus  filhos como e onde quisessem.
Entrevistados na TV, pai e filhos parecem perfeitamente normais. Mas o  governo não quer saber disso. Provavelmente vítimas de um educocrata  fanático ou invejoso, acabaram nas malhas da lei.
Hoje o Massachussets Institute of Technolgy e muitas outras  universidades disponibilizam o conteúdo de seus cursos gratuitamente na  Internet. Neste sistema, frequentar o MIT pode ter uma função  socializatória, possibilitar o desenvolvimento de laços de amizade que  ajudem a conseguir bons empregos e dar aos alunos uma credencial formal,  um diploma. Em matéria de sabedoria, entretanto, ninguém que frequentou  uma destas universidades sabe, necessariamente, mais do que alguém que  estudou em casa seguindo seu currículo.
Educocratas trabalham para a manutenção de um sistema de educação  fraco em que o estado pouco faz (e faz mal) e um monte de "empresários"  licenciados ensinam com o olho no retrovisor (e ganham muito dinheiro  com isso).
Eles são onipotentes para produzir punir pais como os de Jonatan e Davi.
A opção da família é diferente, excêntrica, sem dúvida, mas isso não quer dizer que seja má.
John Stuart Mill, em seu On Liberty, faz uma bela defesa da  excentricidade. Ele chama a atenção para o fato de que o progresso, as  invenções e o desenvolvimento são produto direto da excentricidade.
Se não houvesse excêntricos que resolvessem colocar um motor numa  carruagem ou domar a eletricidade e descobrir como utilizá-la para o  nosso bem, continuariamos andando a pé e iluminando nossas casas com  candeeiros. Não existiriam arranha céus, porque sem eletricidade, não  haveria elevadores.
Por isso morro de medo de incompetentes bem intencionados, sobretudo  quando em grandes grupos, ainda mais quando são do funcionários governo,  porque eles têm a capacidade de punir-nos por exercermos nossa  liberdade.
Deixem Jonatan e Davi estudar em paz. Ele certamente estão melhor do que estariam numa escola.
Alexandre Barros                     | 09 Março 2010               
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Alexandre Barros é cientista político (PhD, University of Chicago) e  diretor-gerente da Early Warning: Políticas Públicas e Risco Político  (Brasília - DF), além de colaborador regular d'O Estado de São Paulo.
Publicado originalmente no site 
Ordem Livre - 
www.ordemlivre.org